Marcelo Camelo tocou no Festival Satolep Circus de Pelotas no dia 11 de maio. Após a passagem de som, Manoval Robe, do coletivo Outro Sul, e Atílio Alencar, do Macondo Coletivo, tiveram uma breve conversa com o músico. Confira essa prosa pra lá de descontraída.

Atílio Alencar: Acompanhamos a tua trajetória e sabemos que tu já tocou em muitos festivais. Gostaríamos de saber a tua opinião sobre isso, se conhece o cenário atual de festivais, se acompanha essa nova dinâmica. Imagino que nos anos 90, quando tu começou a tocar, o cenário era bem diferente.

Marcelo Camelo: A minha relação com música é de muito cedo. Eu ouvia as músicas famosas que tocavam em rádio e sempre toquei, mas o meu “click” pra ter banda, o meu primeiro empreendimento – quando eu pensei: “eu vou montar uma banda, vou cantar e vou ser que nem esses caras aí” – foi com os festivais de bandas independentes. No primeiro festival que fui, estava com o Alex, que hoje é meu produtor. Até foi ele que me levou pra esse universo de shows independentes. Pra mim, foi um choque enorme porque eu gostava de umas bandas americanas e não conseguia nunca cantar como os caras – a minha voz era muito menos aguda e a música americana é uma música que necessita de muitos fonemas agudos. Quando vi um festival, vi músicos bem vestidos – assim como eu me vestia –, com uma cara meio estranha, com um jeito meio estranho, pensei: “sim, é possível” e foi aí que tive aquele “click”, tudo por causa do festival. Então, sempre tive uma relação próxima [com festivais], até a própria carreira do Los Hermanos. A gente começou muito por causa do Abril Pro Rock. Fazíamos um burburinho no Rio, mas o primeiro movimento nacional foi através do Abril Pro Rock, com a repercussão do festival.

Essa minha primeira incursão pelo underground – eu fiz fanzine com o Alex – deu pra gente um certo conhecimento, um certo know how. Los Hermanos, por exemplo, começou com uma fita demo, o bê-a-bá desse universo. Nós [Los Hermanos] fomos, talvez, uma das últimas bandas com a gravação demo em fita cassete e não em CD.  Todo esse universo underground foi muito útil pra minha carreira e até hoje me coloca numa situação de dependência emocional com um mundo que existe e que ocorre de forma independente da mídia principal.

Manoval Robe: Legal tu ter citado o Alex. Pude conversar com ele e a gente vê que o cara é realmente teu amigo, numa relação de extrapola a realidade de trabalho. É bacana que, além dos músicos, existe uma equipe que tem toda uma sensibilidade. O Alex entende o underground, entende os festivais.

Marcelo Camelo: O Alex “é” o underground. [risos]

Manoval Robe: Mas então, seguindo, a gente não consegue enxergar qual é o futuro do mercado fonográfico com a crise das grandes gravadoras…

Marcelo Camelo: É, não só no mercado fonográfico. Penso na situação da atriz pornô, acho que é um bom paralelo. Ela também tá ferrada.

Marcelo Camelo: Eu passo muito mais parte do meu tempo consumindo arte do que produzindo. O consumo de informação liberada me ajudou muito, de várias formas, mas também ele também traz questões que a gente precisa enfrentar.

Texto e fotos: Gabriela Belnhak

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